sexta-feira, 17 de abril de 2009

O dia em que Tony foi ao ar

Estava marcado para as quatro da tarde, mas ele apareceu mais cedo. Arrumado com camisa de botão e manga curta, calça jeans e sapato, Tony esperava encostado na parece ao lado de seu violão. Na cabeça, além do cabelo cuidadosamente arrumado, havia, sem dúvida, muitos sonhos. O sonho de cantar e encantar, o sonho de mostrar sua arte e principalmente o sonho de viver dela.

Tudo tinha acontecido muito rápido. Até a noite do dia anterior, tinha um trabalho de garçom. Hoje já não tinha mais. Até a noite do dia anterior, talvez Tony estivesse desesperançado. Hoje ele já se mostrava cheio de esperanças. Até a noite do dia anterior, Tony levava sua vida de músico como projeto paralelo. Hoje ele já estava decidido: ia viver da música.

Tony Araújo nasceu em São Paulo mas mora desde 1995 em Joinville e se considera praticamente daqui. “Foi em Joinville que nasceu a minha filha e a minha paixão pela música” – lembra ele. Tony não teve influência na família ou na infância, a música simplesmente aconteceu, surgiu de repente.

No começo, Tony foi “com muita sede ao pote”. Estudou, aprendeu e começou procurar espaço. Tocou músicas de seus ídolos Lenine e Zé Ramalho em alguns lugares e encantou muita gente. Sempre com a sua fiel música brasileira porque, como ele mesmo diz, “eu sou brasileiro.” Por fim, Tony acabou sendo garçom em um dos bares que já tinha tocado. E nesse mesmo bar conheceu, naquela noite, quem o faria estar na TV, no dia seguinte.

Hoje ele diz, humildemente, que não tem pretensão de ficar famoso. “Quero apenas receber pelo que eu mereço e fazer o meu trabalho” – confessa Tony. Isso sempre tocando ao vivo já que, como ele mesmo explica, “vender CD não dá mais dinheiro”.

Um pouco nervoso, Tony entrou no estúdio para gravar sua primeira entrevista para a televisão como músico oficialmente. Sentou na cadeira do entrevistado, respondeu a algumas perguntas, pegou seu violão e começou a tocar. Tudo de um jeito muito humilde e sincero.

O bloco era de apenas 20 minutos, mas deu tempo pra tudo. Tony não falou muito, mas fez o que melhor sabe fazer: cantar e tocar. Tudo sempre com um sorriso no rosto. Deu até para o apresentador brincar: “estamos aqui com o homem que canta sorrindo”.

E foi assim, de sorriso em sorriso, que se acabaram os 20 minutos de Tony Araújo. Aqueles poucos minutos que, sem dúvida, entrariam para a história da vida dele teve um fim. Os seus “minutos de fama”. O pontapé inicial de sua brilhante carreira. O dia em que Tony foi ao ar.

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(Para contratar Tony de Araújo e/ou sua banda Dr. Pimenta: (47) 8412 2623)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Profissão de Risco: Jornalista

Enchentes, guerras e ameaças são algumas das situações que um jornalista, ao ingressar na carreira, decide enfrentar dali para a frente. Os riscos que os profissionais dessa área correm vão de xingamentos a brutais tipos de violência que, às vezes, levam até à morte. A lista de danos sofridos por jornalistas é extensa no mundo todo e suas causas são as mais diversas.

Os desafios fazem parte do jornalismo desde a sua consolidação e reconhecimento como profissão. Hoje, a busca pela informação é ainda mais desafiadora por causa das novas tecnologias que aceleram o processo de comunicação. Tal busca desenfreada e constante pela notícia é o combustível que leva jornalistas a cobrir fatos perigosos como guerras e fenômenos naturais.

Em alguns casos esses riscos superam a missão de informar, como no episódio envolvendo o jornalista Ricardo Kotscho e contado por ele no livro A Prática da Reportagem: "Estava em Itatiaia, cobrindo um incêndio na reserva florestal, quando nos mandaram de lá mesmo direto pra Macaé: explosão na plataforma central de Anchova 1". Kotscho se recusou a ir à plataforma que havia explodido, em 1984. "O jornal não precisa de heróis, mas de reportagens. E cada um tem que conhecer seus próprios limites" – declarou o jornalista.

Reconhecendo-os ou não, sempre há quem passe dos limites. Um dos casos mais conhecidos é o do jornalista José Hamilton Ribeiro que, em 1968, foi cobrir a Guerra do Vietnã para a Revista Realidade. A sentença foi trágica: o repórter perdeu uma perna ao pisar numa mina terrestre. Apesar da perda, José Hamilton ainda se diz a favor da cobertura jornalística nestes casos: “Uma guerra é ruim, mas uma guerra sem jornalista é pior ainda”.

Os motivos pelos quais esses profissionais escolhem encarar os riscos são muitos, segundo José Hamilton Ribeiro. “Um pouco ambição profissional. E uma pitada de falta de juízo. Mas muito mesmo de um componente psicológico típico da profissão de jornalista, que é ser um justiceiro, um missionário, um visionário, no sentido em que ele sente que precisa estar onde estão acontecendo as coisas. Primeiro, para ser um testemunha da História. Segundo, para denunciar o que houver ali de maldade, de injustiça” – sentencia.

Hoje, com a saturação do mercado, escolhas como as de Kostscho e Zé Hamilton ficam cada vez mais difíceis: ou o profissional aceita correr os riscos ou pode ser substituído por quem o faça. Dessa maneira, enfrentar todo tipo de dificuldade no processo de apuração da notícia se tornou fator obrigatório para quem trabalha na imprensa.

Outra forma de levar um jornalista aos riscos é a sua desconfiança. Na tentativa de mostrar o que ele supõe que se queira esconder, o repórter pode sofrer diversos tipos de ameaças e atentados. Isso ocorre principalmente no Jornalismo Investigativo, do qual se tem um exemplo muito difundido: o escândalo Watergate, na década de 1970, quando dois repórteres descobriram o envolvimento do presidente dos EUA Richard Nixon com operações ilegais. O caso levou Nixon a renunciar ao cargo.

A reportagem investigativa, usada principalmente na política, é uma das áreas em que o profissional da mídia mais se expõe à riscos. O jornalista e comentarista de política radicado em Joinville, Osny Martins, diz que, recentemente, na cobertura das eleições municipais, chegou a receber telefonemas com ameaças de morte. Além disso, Osny conta que também teve vidros da janela de sua casa quebrados e estragos em seu carro.

Porém os casos não se limitam à editorias de política e polícia que pensa-se ser as mais perigosas. O jornalista de Joinville Cacá Martan trabalha na área esportiva e confessa ter passado por muitos riscos. Segundo ele, em transmissões esportivas são comuns agressões verbais por parte dos torcedores. Cacá diz que já foi também agredido fisicamente com guarda-chuvas além de levar banho de cerveja e até urina.

Atentados contra a liberdade de imprensa não são herança exclusiva do período de ditadura militar que se instalou no Brasil em 1964. Mas o regime ditatorial que durou até 1985 foi sem dúvida a fase mais conturbada na história do jornalismo brasileiro. A censura proibia os profissionais da comunicação de exercer seu trabalho. Muitos jornalistas, na tentativa de resistir ao regime, foram torturados e até assassinados.

Alguns dados refletem as conseqüências trágicas dos riscos enfrentados por estes profissionais. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj foram registrados 171 casos de mortes na Imprensa durante o ano de 2007. Neste ano, segundo o Observatório da Imprensa, até o mês de outubro já foram contabilizados cerca de 70 óbitos no mundo. O fato curioso é que a maioria destes registros ocorre em épocas de paz e em países que não passam por guerras ou conflitos.
- Reportagem publicada no Cobaia (jornal da Univali)