terça-feira, 11 de novembro de 2008

O multiinstrumentalista

As mãos não param: ora estão nos botões do saxofone, ora nas cordas do violão. Às vezes elas também insistem em batucar em instrumentos de percussão ou se aventuram, junto ao microfone, numa gaita de boca. Seus movimentos acompanham o ritmo da música e o ritmo da música é acompanhado por algumas dancinhas que seu corpo improvisa. Com os olhos quase fechados, ele sorri.

Veste camiseta, não muito grande, preta; calça jeans escura e tênis. O cabelo desarrumado não chega ao ombro, mas voa junto aos movimentos da cabeça. No pulso esquerdo, um relógio. No pescoço, um cordão preto com uma espécie de gancho na ponta para prender algum instrumento de sopro. Gotas de suor escorrem pela testa umedecendo, assim, seu rosto inteiro.

Não há nada que ele não faça em cima do palco. Toca todos os instrumentos que lhe caem nas mãos, apresenta solos, canta, dança e ainda consegue animar a platéia. Chega até a trocar, mais de uma vez, de instrumento durante uma música. E tudo com uma rapidez que impressiona.

Nos créditos do telão, no final do espetáculo, seu nome aparece ao lado de uma de suas funções: “Milton Guedes – Sopros”. Porém sua performance e talento em cima do palco vão além disso. Os instrumentos tocados por ele não são só os de sopro e a qualidade de sua apresentação como músico é iinquestionável. Apesar do evento ser de Lulu Santos, quem dá show, de verdade, é ele.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Dia do Cinema Brasileiro

"Não há paz que não tenha um fim. Nem taça que não tenha um fundo de veneno."

* frase do filme Lavoura Arcaica - um dos melhores filmes brasileiros na minha opinião - em homenagem ao dia do cinema brasileiro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Poeta

Com cabelos brancos mas cara de menino, ele fecha os olhos e dança. As mãos fingem tocar uma guitarra que acompanha os acordes da música. Ele vai até o chão, rebola e sorri. Só pára quando resolve beber mais um pouquinho do líquido amarelo que está dentro de seu copo. Embriagar-se é uma das coisas que ele costuma fazer enquanto está, ou não, trabalhando.
Caco, como todos o chamam, se veste com roupas sociais: calça, camisa e até gravata. Paletó, também, quando faz frio. As vezes usa uma mochilinha infantil azul que não combina muito com a roupa mas ajuda a denunciar sua alma: de criança. Os óculos de grau com armação preta e quadrada são mais um detalhe que lhe dá um ar de jovem. Não só de jovem, mas também de intelectual. É exatamente isso que Caco é: um homem inteligente com alma de menino. Poeta também, como ele mesmo diz.
Os pés se cansam e ele senta. Continua a beber enquanto conversa com todos. Os que chegam no bar, quando o avistam, vão diretamente lhe cumprimentar. Todos fazendo a mesma pergunta: - Como foi o lançamento do livro, Caco? Ele abre um sorriso envergonhado e diz que foi legal.
Depois de vários copos, Caco fica bêbado. Quase derruba a mesa várias vezes. Coloca cerveja na garrafa de chocoleite e chocoleite no copo de cerveja. Derrama um pouco de bebida e faz o Sid, que trabalha ali, vim lhe perguntar: - Caco, tu tá bem? Todo mundo ri. Ele também. Então Caco solta a primeira frase do poeminha ilustre rabiscado no banheiro do Bar do Energia:
- Ovo, algema...
Todos respondem:
- Gema, prisão!