terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Poeta

Com cabelos brancos mas cara de menino, ele fecha os olhos e dança. As mãos fingem tocar uma guitarra que acompanha os acordes da música. Ele vai até o chão, rebola e sorri. Só pára quando resolve beber mais um pouquinho do líquido amarelo que está dentro de seu copo. Embriagar-se é uma das coisas que ele costuma fazer enquanto está, ou não, trabalhando.
Caco, como todos o chamam, se veste com roupas sociais: calça, camisa e até gravata. Paletó, também, quando faz frio. As vezes usa uma mochilinha infantil azul que não combina muito com a roupa mas ajuda a denunciar sua alma: de criança. Os óculos de grau com armação preta e quadrada são mais um detalhe que lhe dá um ar de jovem. Não só de jovem, mas também de intelectual. É exatamente isso que Caco é: um homem inteligente com alma de menino. Poeta também, como ele mesmo diz.
Os pés se cansam e ele senta. Continua a beber enquanto conversa com todos. Os que chegam no bar, quando o avistam, vão diretamente lhe cumprimentar. Todos fazendo a mesma pergunta: - Como foi o lançamento do livro, Caco? Ele abre um sorriso envergonhado e diz que foi legal.
Depois de vários copos, Caco fica bêbado. Quase derruba a mesa várias vezes. Coloca cerveja na garrafa de chocoleite e chocoleite no copo de cerveja. Derrama um pouco de bebida e faz o Sid, que trabalha ali, vim lhe perguntar: - Caco, tu tá bem? Todo mundo ri. Ele também. Então Caco solta a primeira frase do poeminha ilustre rabiscado no banheiro do Bar do Energia:
- Ovo, algema...
Todos respondem:
- Gema, prisão!

Um comentário:

Unknown disse...

Talita, que legal esse teu texto. Fiquei tão feliz em ver tua interpretação sobre o Caco. Enquanto lia, via a cena. Somos fãs de carteirinha do Caco de Oliveira, extamente desse que você escreveu!

Um abração!
Projeto Cidade Cultural