domingo, 7 de dezembro de 2008

Eu cego, tu cegas, ele cega...

Não há pontos de interrogação. Não há diálogo que se preceda de um travessão. Não há nomes para os personagens. A moça é chamada de “rapariga”; o médico de médico e assim é com todos os outros. Para o alto-falante, chama-se “altifalante”. Para os dormitórios, dá-se o nome de “camarata”. Porém, mais curioso ainda é o mote: todas as pessoas do mundo cegando de repente.

No livro Ensaio sobre a cegueira de José Saramago tudo é estranho. A começar pela língua que tem o mesmo nome que a nossa - mas é tão diferente quanto às de título distinto - a Língua Portuguesa. O autor, nascido em Portugal, não permitiu a adaptação de seu livro para o “português tupiniquim”. Assim, aos brasileiros, a estranheza já surge nas primeiras frases.

Não bastasse a ortografia e a gramática, o livro nos presenteia com mais uma de suas particularidades logo no começo: o enredo. Nele é contado que um homem, ao parar no sinal vermelho, fica cego de modo repentino. Sem causas nem explicações. Só há uma distinção: a cegueira é branca. O caso inesperado é seguido de outros e mais outros casos. Os que enxergam terminam por cegar com algum contato com um cego. Nasce, então, uma epidemia contagiosa de cegueira. As autoridades tomam medidas de prevenção ao surto, mas a ação é ineficaz: todos cegam.

Criativo, estranho e genial. A história parece loucura do escritor. Mas é só um jeito muito inteligente de propor algumas reflexões sobre hábitos comuns à humanidade. Como, por exemplo, o "hábito" de não ver.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O multiinstrumentalista

As mãos não param: ora estão nos botões do saxofone, ora nas cordas do violão. Às vezes elas também insistem em batucar em instrumentos de percussão ou se aventuram, junto ao microfone, numa gaita de boca. Seus movimentos acompanham o ritmo da música e o ritmo da música é acompanhado por algumas dancinhas que seu corpo improvisa. Com os olhos quase fechados, ele sorri.

Veste camiseta, não muito grande, preta; calça jeans escura e tênis. O cabelo desarrumado não chega ao ombro, mas voa junto aos movimentos da cabeça. No pulso esquerdo, um relógio. No pescoço, um cordão preto com uma espécie de gancho na ponta para prender algum instrumento de sopro. Gotas de suor escorrem pela testa umedecendo, assim, seu rosto inteiro.

Não há nada que ele não faça em cima do palco. Toca todos os instrumentos que lhe caem nas mãos, apresenta solos, canta, dança e ainda consegue animar a platéia. Chega até a trocar, mais de uma vez, de instrumento durante uma música. E tudo com uma rapidez que impressiona.

Nos créditos do telão, no final do espetáculo, seu nome aparece ao lado de uma de suas funções: “Milton Guedes – Sopros”. Porém sua performance e talento em cima do palco vão além disso. Os instrumentos tocados por ele não são só os de sopro e a qualidade de sua apresentação como músico é iinquestionável. Apesar do evento ser de Lulu Santos, quem dá show, de verdade, é ele.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Dia do Cinema Brasileiro

"Não há paz que não tenha um fim. Nem taça que não tenha um fundo de veneno."

* frase do filme Lavoura Arcaica - um dos melhores filmes brasileiros na minha opinião - em homenagem ao dia do cinema brasileiro.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Poeta

Com cabelos brancos mas cara de menino, ele fecha os olhos e dança. As mãos fingem tocar uma guitarra que acompanha os acordes da música. Ele vai até o chão, rebola e sorri. Só pára quando resolve beber mais um pouquinho do líquido amarelo que está dentro de seu copo. Embriagar-se é uma das coisas que ele costuma fazer enquanto está, ou não, trabalhando.
Caco, como todos o chamam, se veste com roupas sociais: calça, camisa e até gravata. Paletó, também, quando faz frio. As vezes usa uma mochilinha infantil azul que não combina muito com a roupa mas ajuda a denunciar sua alma: de criança. Os óculos de grau com armação preta e quadrada são mais um detalhe que lhe dá um ar de jovem. Não só de jovem, mas também de intelectual. É exatamente isso que Caco é: um homem inteligente com alma de menino. Poeta também, como ele mesmo diz.
Os pés se cansam e ele senta. Continua a beber enquanto conversa com todos. Os que chegam no bar, quando o avistam, vão diretamente lhe cumprimentar. Todos fazendo a mesma pergunta: - Como foi o lançamento do livro, Caco? Ele abre um sorriso envergonhado e diz que foi legal.
Depois de vários copos, Caco fica bêbado. Quase derruba a mesa várias vezes. Coloca cerveja na garrafa de chocoleite e chocoleite no copo de cerveja. Derrama um pouco de bebida e faz o Sid, que trabalha ali, vim lhe perguntar: - Caco, tu tá bem? Todo mundo ri. Ele também. Então Caco solta a primeira frase do poeminha ilustre rabiscado no banheiro do Bar do Energia:
- Ovo, algema...
Todos respondem:
- Gema, prisão!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Hugo Rodas

É um dos diretores teatrais que mais faz história no Brasil. Uruguaio de nascimento, mas brasiliense de coração, Hugo é professor do curso de Artes cênicas da UnB - Universidade Federal de Brasília, dramaturgo e ator. Vencedor de vários prêmios, hoje Hugo Rodas é referencia nacional no teatro. Para ele, sua arte é 'provocadora'. - "Minha função não é entreter, eu quero incomodar!"
* Diretor da peça "Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo"

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Adubo

Luz baixa, velas brancas acesas, fumacinha no ar e som macabro. Em meio a isso, quatro pessoas e um único assunto: a morte. É assim que o grupo brasiliense TUCAN – Teatro Universitário Candango (DF) apresenta o espetáculo "Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo".
A peça fez parte do projeto Palco Giratório e foi apresentada no último sábado, na Cidadela Cultural de Joinville. A direção é do uruguaio Hugo Rodas e o texto é fruto de um processo de pesquisa sobre o tema. Os atores buscaram textos, poemas, teses e tudo o que já foi escrito sobre a morte na literatura, medicina, religião e filosofia. A união e adaptação destes escritos geraram o roteiro.
No cenário, um grande quadro negro no fundo, uma pequena mesa com velas e garrafas num canto, banquetas, e alguns instrumentos musicais noutro canto. Os quatro personagens escrevem e desenham coisas no quadro durante a peça. Isso acontece inclusive no momento em que os espectadores entram no espaço cênico.
André Araújo, Juliano Cazarré, Pedro Martins e Rosanna Viegas passam por diversos personagens. Os atores mudam, imperceptivelmente, de um personagem para outro, trocam de cena, interagem com a platéia, voltam à algum personagem de outra cena e mesclam elementos de arte.
Entre piadinhas, coreografias, batuques e poemas, os 'candangos' conseguiram dar originalidade ao tema tão clichê. A morte é tratada sutil e despreocupadamente, sem medos ou barreiras. O espetáculo tem a dose certa de tudo. Só exagera em duas coisas: talento e beleza.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Whisky

- Digam 'Whisky'!
- Whiskyyyy.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Quatro menos três?

Uma jovem aluna chega à casa de seu novo professor particular e é recebida com o sorriso largo da criada. Ela pede para a aluna entrar e espera-lo. A sala tem duas cadeiras com rodas colocadas frente a frente sob uma luminária redonda que desce do teto para iluminar o centro dela. Num canto estão alguns livros e em outro alguns lápis.
Este é o cenário que guia a peça apresentada pela Companhia La trama: “A Lição”. Do dramaturgo criador do teatro do absurdo Eugène Ionesco, o espetáculo é formado por três personagens: o professor; a aluna (por Samantha Cohen) e a empregada (Juciara do Nascimento). Com tradução de Paulo Neves, “A Lição” é dirigida por Amarildo de Almeida e produzida pelo ator que interpreta o professor: Cristóvão Petry.
O roteiro conta a história de uma aluna que sonha entrar no curso de “Doutorado Total”, onde pretende se especializar em todas as áreas do conhecimento. Naturalmente, a dificuldade de passar é grande. Sendo assim, a aluna vai à procura de um professor que a ajude com os estudos. O professor, à principio, se mostra gentil e paciente com a menina. Mas sua calma se esvai à medida que a aluna responde a seus questionamentos.
Aos poucos, o professor começa a perder sua compostura e parte para uma batalha dura de ensinamentos, de modo à impressionar a aluna. Isto ocorre enquanto a moça começa a se sentir mal e a criada intervém algumas vezes advertindo-o sobre “o pior” que pode acontecer.
Tudo acontece numa atmosfera estranha de sensações variadas. O espetáculo também é múltiplo de leituras e entendimentos, questionando diferentes situações perenes da sociedade, sem espaço de tempo. Além de unir, belissimamente, o engraçado e o obscuro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Peça "A Lição" é apresentada em Joinville

A companhia de teatro La trama estréia neste sábado, 23 de agosto, a peça "A Lição" do dramaturgo criador do "teatro do absurdo" Eugéne Ionesco. O espetáculo conta a história de um professor de aulas particulares numa tentativa de impressionar sua aluna. Traduzida por Paulo Neves e dirigida por Amarildo de Almeida, a peça será apresentada todos os sábados e domingos até o dia 7 de setembro, na Cidadela Cultural.

O quê: Espetáculo “A lição", do grupo teatral La trama.
Quando: 23, 24, 30 e 31 de agosto; 06 e 07 de setembro.
Horário: 20h.
Onde: Galpão de Teatro da AJOTE – Antarctica.
Quanto: R$ 10,00 (Professor, Estudante e pessoas acima de 60 anos pagam meia) à venda na Livraria Midas.
Informações: Cristóvão Petry - 47 9603 5584 - http://cristovaopetry.blogspot.com

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Nova temporada do Espetáculo Migrantes

A peça “Migrantes” do grupo Dionisos Teatro passa novamente pelo Juarez Machado esta semana. As apresentações começam hoje, dia 19, e vão até sexta-feira, dia 22. Todos os dias ás 20h.
O espetáculo conta histórias de pessoas que, devido à diferentes situações, vieram de outras cidades para morar em Joinville. No palco, os “migrantes” são representados por Andréia Malena Rocha, Clarice Steil Siewert, Eduardo Campos e Vinícius José Puhl Ferreira. A peça, dirigida por Silvestre Ferreira, conta com efeitos visuais projetados no palco além do áudio de pessoas contando suas histórias de migrante.
Além disso, há um momento de interação com a platéia onde o público se torna personagem contando também suas “experiências migratórias”. Essa proximidade do roteiro com seu público alvo e do público com os personagens é, sem dúvida, o ponto que marca a beleza do espetáculo. Há uma identificação unificada, uma lembrança conjunta e nostálgica de todos os que viveram tais circunstancias ou conhecem alguém que o fizera.
“Migrantes” é uma apresentação que todos os joinvilenses deveriam ver. Porque ao contrário de algumas peças que vêm de longe e que, além de não ter significado local, não têm conteúdo, Migrantes é um exemplo de espetáculo bem pensado e produzido. E o mais importante: é feito aqui para o público daqui.


O quê: Espetáculo “Migrantes”, do grupo teatral Dionisos.
Quando: 19, 20, 21 e 22 de agosto/2008.
Horário: 20h.
Onde: Teatro Juarez Machado, Avenida José Vieira, 315 – anexo ao Centreventos Cau hansen, Centro – Joinville/SC.Quanto: no local R$ 16,00 – antecipados na Livraria Midas R$ 12,00 (Pessoas acima de 60 anos e estudantes pagam meia)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Melhor ficar calado, Zé!

Artificial. Essa sem dúvida era a palavra que definiria o ator global José de Abreu, na noite de ontem. A peça “Fala, Zé” estrelada por ele foi apresentada às 20h no Teatro Juarez Machado em Joinville. Nela, o ator se mostrou de forma plástica e com pouca naturalidade.
O texto assinado por Angel Palomero e Walter Daguerre conta uma história, que supostamente é do próprio ator, e a relaciona com alguns fatos históricos. O ponto de partida é a aparição do “Arcanjo Gabriel” (interpretado também por José) projetado num dos telões. Depois de uma rápida e desentendida conversa, o Anjo diz à José de Abreu que sua missão ali, naquela noite, era falar. E profetisa, então, a frase que dá nome à peça:
- Faaaala, Zé! Desencadeando o espetáculo com tal sentença, o personagem/ator começa a contar sua história de vida.
Cronologicamente, o monólogo passa por fatos importantes na história do Brasil e do mundo tais como: a ditadura militar; o movimento estudantil na década de 60; o movimento hippie e o cinema novo. Em meio a tais fases históricas aparecem personagens como Caetano Veloso, José Dirceu e Glauber Rocha, imitados também por José. Além disso, há fotos e filmagens de alguns momentos contados com projeções enquanto o ator troca de figurino.
O jeito plastificado que José atuou no palco não condisse com o imaginário do roteiro. Isso porque, na peça, o ator interpreta ele mesmo ou, ao menos, alguma coisa parecida com o “personagem dele mesmo”. Mais parecia um personagem atuando no papel de um personagem. Não um ator fazendo um personagem. Ou melhor: um ator fazendo o personagem mais natural que poderia ser feito que é o seu próprio personagem!
Deixando de lado a figura do ator, o espetáculo foi uma boa aula de história fazendo o público reviver momentos bons e relembrar coisas que até o “Zé” diz ser melhor esquecer. O enredo também, mesmo sendo comédia (e de ator da Globo), não era dos piores. O que estragou mesmo foi o “Zé” e seu desempenho inesperadamente A-R-T-I-F-I-C-I-A-L.

Nota 2: "A Presença"

Presença ilustre no Teatro Juarez Machado em Joinville, ontem. O próprio! Aquele que deu nome à casa. O artista plástico joinvilense: Juarez Machado.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Renato Russo - a peça


A mistura de artes e linguagens artísticas compuseram as noites de sexta e sábado, 8 e 9 de agosto, no teatro Juarez Machado. “Renato Russo - a peça” trouxe para o palco joinvilense o casamento perfeito entre música e teatro. No sábado, a apresentação durou pouco mais de duas horas e caractezirou-se como uma “peça-show”.
Entre monólogos e músicas, o ator Bruce Gomlevsky conta a vida do cantor e compositor brasileiro Renato Russo. O roteiro segue ordem cronológica passando pela infância e adolescência de Renato, depois pelo seu sucesso na carreira profissional até sua morte. Dirigido por Mauro Mendonça Filho, a peça conta também com a banda Arte Profana tocando ao vivo, além de efeitos visuais que ilustram as emoções e fases pelo qual Renato Russo passou.
O fundo do palco é ocupado por uma espécie de tela onde são projetados os efeitos em meio às divagações solitárias do artista. Quando não há projeções, as luzes atrás da tela se acendem para mostrar a banda. Os músicos escondidos em alguns momentos e mostrados com a iluminação tocam sucessos do Aborto Elétrico (primeira banda de Renato); da Legião Urbana; entre outras músicas marcantes na vida do cantor.
Com a ajuda de uma magistral iluminação, Bruce reproduz o tempo todo trejeitos do ídolo, emocionando e provocando um sentimento nostálgico no público. O ator também improvisa situações interagindo com a platéia, tal qual o próprio Renato Russo. Além de botar todo mundo pra cantar em coro os 22 sucessos escolhidos para a peça.
A obra conseguiu, sem dúvida, superar as expectativas tanto dos fãs de Renato quanto dos que não o conheciam muito. O teatro transbordou música e poesia, durante duas horas. E, certamente, essa energia permaneceu nas pessoas que estiveram lá. Dava pra vê-la nos olhos de todos os que, involuntariamente, cantarolavam na saída.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Bobagem global

Pior do que teatro global é comédia teatral feita por atores da Rede Globo. Não gosto de generalizações nem de paradigmas. Mas este é um dos que se firmam a cada dia, ou melhor, a cada peça destas que passam aqui por Joinville. A ultima foi apresentado nos dias 2 e 3 de agosto na Moom.
"69 com a Empregada" é um espetáculo escrito, dirigido e encenado pelo ator da Rede Globo Paulo Silvino. O elenco é composto pelo autor da peça juntamente com Ednei Ieger. Os dois seguem um roteiro sem graça de um homem que no dia de seu aniversário de 69 anos vai à casa de uma amiga busca-la para sair e só encontra a empregada. Enquanto espera pela amiga, o aniversariante fica conversando com a tal faxineira.
O enredo é apenas um pretexto para o nome sugestivo “69 com a empregada” que tem como objetivo chamar público. Além de servir somente como um pano de fundo para as piadinhas sem-graça ao estilo dos programas humorísticos da emissora do autor. Tal qual o “Zorra Total”, programa no qual Paulo Silvino trabalha, o espetáculo é apelativo e ruim.
Mais uma vez o paradigma de que são raras as peças globais que realmente valem a pena assistir, fazem valer a pena sair de casa para vê-las e valem o dinheiro do ingresso. Não quero ter isso como verdade absoluta. Mas, que nessa última valia mais a pena assistir Zorra Total na televisão...acredito que sim! Pelo menos ninguém precisaria sair de casa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O que eu fiz?


Um pouco de vela derretida e ainda incandescente é derramada na palma da mão esquerda das pessoas que adentram o Teatro Juarez Machado. Espetáculo de tortura? Não. O ritual fez parte da peça de dança "O Processo" apresentada na noite de domingo, 20 de julho, pela Mostra de Dança Contemporânea. Numa adaptação do livro de Franz Kafka, a paulistana Cia Borelli de Dança conseguiu, magistralmente, transformar as palavras do escritor Austro-húngaro em expressão corporal.
Dirigido por Sandro Borelli, o espetáculo formado por sete bailarinos criou, no teatro de Joinville, um clima típico kafkiano de angústia e medo. A começar pela dorzinha do líquido quente derramado na mão dos espectadores. Depois, com o som macabro (que infelizmente foi prejudicado mais uma vez pelos péssimos equipamentos do teatro) da trilha sonora de Gustavo Domingues. E também pela iluminação e performance sofrida dos personagens.
“Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum” – é assim que começa a obra no qual se baseia a encenação. O personagem principal, Sr. K., é um procurador de banco que, após saber de um processo movido contra ele, mergulha num conflito consigo mesmo enquanto se questiona porque e por quem foi acusado.
No palco, o personagem de Kafka foi representado por alguns atores que se movimentavam de forma agoniante enquanto uma mulher de preto se “grudava” à eles, um a um. A mulher parecia ser uma metáfora da culpa que o personagem “carrega nas costas” ou, quem sabe, de sua própria consciência. Esta que em determinado momento cega e cala Josef. A peça problematizou, tal qual outras obras de Kafka, a condição humana.
O espetáculo conseguiu capturar a atenção de toda a platéia. Além de aproximar de forma inteligente os que atuavam dos que assistiam já que, enquanto os personagens de Josef questionavam, no palco, o motivo de serem processados; os espectadores, na platéia, ainda questionavam o porque da vela derretida em suas mãos.