sábado, 27 de março de 2010

Histórias de Cor[ação]


Carol e suas mãos concentradas
Todo mundo tem uma história pra contar. Carol tem várias e as guarda dentro de uma caixinha amarela de madeira. Agora são 10h39 da manhã e as histórias ainda não acordaram, diz ela. Mas, com a ajuda de algumas crianças, elas logo sairão da caixa para povoar o lúdico universo infantil.

Alguém aí sabe em que parte do corpo fica a concentração? – começa ela depois de explicar que esse é o item que se precisa para ouvir uma história. Os olhinhos, as vezes atentos, as vezes dispersos, estão parados à frente de Carolina. Mas logo se movem junto aos corpos procurando o primeiro menino que responde.
- É na cabeça!
Todos os outros repetem: “Cabeça!”, “Fica na cabeça”, “Acho que é na cabeça!”

Não, não. Segundo a contadora, a concentração fica em uma parte do corpo que não é na cabeça, nem na barriga, nem nos joelhos. Fica nas mãos.
- Olha o quanto de concentração tem nas mãos de vocês! Tão vendo? Então esfreguem uma na outra. Agora coloquem as mãos nas orelhas. Pra ouvir uma história a gente precisa de concentração pra escutar, não é?

Todas as crianças seguem sorridentes as orientações de Carol. Colocam suas mãos nas orelhas, para ouvir a história melhor; colocam as mãos nos olhos, para prestar atenção na contadora; colocam as mãos na cabeça, para entender bem o que vai ser contado. Aos que estão sentados, Carol pede para que coloquem sua concentração no bumbum também, para que permaneçam sentados. Os que estão em pé podem colocar as mãos concentradas nos pés.

Pronto! Está feito o primeiro contato. É com o uso da interação que a contadora de histórias Carolina Spieker consegue os primeiros minutos da preciosa atenção de seus expectadores, as crianças. Carol parte, então, para o desempenho de sua função. Depois de “despertar as histórias” batendo na caixinha com a ajuda de algumas crianças, ela pega um dos papeizinhos que lá estão e começa a história do menino João Jiló.

Paralelos a isso estão cadernos, mochilas com cinderelas e super-heróis, canetas de todos os tipos, e livros. Tudo muito colorido. O cenário no qual Carol e suas crianças fazem parte, neste momento, é uma livraria. Lugar agradável, bonito e confortável, mas cheio de fáceis possibilidades para desviar a atenção de uma criança.

Ali estão também os pais. Todos aparentemente jovens, com seus 30 e poucos anos. Alguns deixam seus filhos assistindo a performance de Carol e passeiam pela livraria olhando os títulos. É o caso do engenheiro Abel Serrão, que entre um livro e outro, observa sua filha Isabela de longe para se certificar de que tudo está bem. Faz isso porque, para ele, esse é um momento somente das crianças.

Os outros pais e mães preferem estar entre suas crias. Mas, como não esfregaram suas mãos cheias de concentração nos olhos, orelhas, cabeças e bumbuns, como fizeram as crianças, não param. Não olham, não escutam, não entendem e não ficam no mesmo lugar por muito tempo. Alguns chegam a conversar entre si, bem atrás do tapume onde estão Carol e as crianças.

A difícil tarefa que Carol tem de captar a atenção de todos os pequenos se torna ainda mais complicada com o colorido cenário e a presença dos pais desatentos e agitados. Apesar disso, a contadora não se mostra incomodada um só minuto. Conta a primeira história, a segunda sorteada da caixinha, faz perguntas às crianças, canta músicas. Depois conta a terceira e a quarta história. Tudo com muita tranqüilidade e um tom sereno de voz.

O baú de Juliana e Túlia
É comum que todo contador tenha uma caixa cheia de histórias pra contar. Essa caixa pode estar simplesmente na imaginação ou pode ser real e amarela como a de Carol. Mas Túlia e Juliana usam um baú. Onze crianças, entre 3 e 6 anos, estão sentadas em mini-cadeiras e observam atentas os diferentes objetos que saem daquela grande caixa.

Um avental, um boné, pedaços de tecido e o lenço que transforma Túlia em uma engraçada velha são alguns objetos que as duas contadoras tiram de seu baú. Estes adereços as transformam, em poucos segundos, em mãe, menino, velha e qualquer outro personagem de uma história infantil. A contação de Túlia e Juliana é cênica.

Em meio à pequena platéia está Rafael. O menino, de cabelos pretos em forma de “tigela” e rosto arredondado, não perde a oportunidade de interagir. Foi o primeiro a responder à Carol, no dia anterior, onde fica a concentração. Hoje responde também à Juliana e Túlia, as vezes com palavras, as vezes com risadas.
- Macaco! – diz ele interrompendo Juliana enquanto ela conta que o menino João Bobo deu banana ao papagaio. A contadora sorri explicando que os papagaios também comem banana, assim como os macacos.

A performance de Juliana Apple e Túlia Januário consegue prender a atenção de Rafael, das outras crianças e dos pais que hoje estão mais calmos, em menor quantidade e num lugar com menos opções de distração. As crianças saem empolgadas, com as histórias que aprenderam, e ansiosas para contá-las aos amiguinhos e familiares. Apesar disso, não querem ir para casa. Puxam de forma insistente seus pais até a estante de livros mais próxima.

Um comentário:

Humberto Soares - ARTE disse...

Eita Vida de Contador de Histórias...RSRSSS
"Contar Histórias é o mais importante de tudo."
Muitas Graças pra Todos os Contadores de Histórias!
Bjo de Duende:Hum.