segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Lar, verde, lar



O ministro do Meio Ambiente Carlos Minc declarou recentemente que a sustentabilidade é como a camiseta do Che Guevara: todo mundo usa ou é a favor, mas ninguém lembra o que significa. Pois é! A sustentabilidade já faz parte da moda contemporânea. O termo começou a ser discutido na década de 1980, mas é agora, no século XXI, que a palavra chegou à boca do povo. Apesar de ter grande espaço na mídia mundial, pouco se sabe da amplitude do tema. Quem pensa que sustentabilidade é assunto apenas para o marketing empresarial vai se surpreender quando encontrar com ela na própria casa.


Adaptar moradias ao entorno não é atitude do homem das cavernas. Faz parte da proposta dos dias de hoje. A construção e a arquitetura sustentável são novas alternativas para fazer as pessoas ajudarem a preservar o meio ambiente, além de economizar e melhorar a própria qualidade de vida. Tudo isso dentro de casa.


Sustentabilidade na área da arquitetura é muito confundida com rusticidade, diz o arquiteto Mateus Szomorovszky. Muitas pessoas procuram um arquiteto em busca da chamada “casa sustentável” ou “casa ecológica”, mas têm em mente um ambiente rústico para morar. Se essa confusão existe, as pessoas devem saber, primeiramente, o que é uma moradia sustentável.


A tentativa de transformar o edifício em parte do habitat vivo, encontrando nele soluções aos problemas ambientais como na utilização eficiente dos recursos naturais e na reutilização de outros materiais. Esta é a missão da construção e da arquitetura sustentável.


Reaproveitar a água da lavanderia e da chuva, ter janelas que privilegiem a iluminação natural, utilizar resíduos como elementos de construção e decoração. São muitas as possibilidades que uma casa pode ter para ser sustentável. Segundo o arquiteto Mateus Szomorovszky o mercado apresenta cada vez mais novidades em materiais para casas sustentáveis, mas eles devem ser usados de acordo com as necessidades de cada pessoa, região e ambiente.


O projeto de uma casa ou prédio sustentável começa com a análise do terreno e sua localização. O arquiteto identifica as possibilidades de construção no espaço que já existe procurando não modificar elementos naturais e aproveitar as características do local como, por exemplo, o clima, o vento, a luz solar e a sombra. Tudo de acordo com as necessidades do morador.


A segunda etapa do projeto é escolher as práticas sustentáveis que a pessoa quer trazer para dentro de casa. A utilização de placas solares como fonte de energia, a captação da água da chuva para as descargas, a escolha de pisos e azulejos reciclados e etc. Os sistemas e materiais usados nessas construções variam de acordo com cada projeto e necessidade. Isso porque o cumprimento de uma obra sustentável pode pesar no bolso.


Segundo o arquiteto Mateus Szomorovszky, a execução de um projeto sustentável custa em torno de 15 a 20% mais caro. Isso porque, em geral, os materiais custam mais e a mão-de-obra tem de ser especializada. Porém, é evidente que há como benefício uma economia em longo prazo. Já que, como diz o arquiteto Mateus, “a sustentabilidade tem que ser prazerosa, gerar custo/beneficio pra pessoa”.


Ser economicamente viável é o primeiro pilar da sustentabilidade. Os outros são: ecologicamente correto e socialmente aceito. Em resumo, um projeto sustentável tem de fazer bem para o meio ambiente, para a sociedade e também para o bolso das pessoas envolvidas. É aí que entra tantos benefícios que a sustentabilidade pode trazer, seja ela fora ou dentro de casa.


O engenheiro agrônomo e ecologista Gert Fischer tem uma casa ecológica e diz que é gratificante o sucesso de suas práticas sustentáveis onde mora. Isso porque Gert foi além da preocupação com a própria casa e ensinou seus vizinhos a agirem com sustentabilidade. De acordo com Gert, não devemos pensar apenas nas vantagens que temos em praticar a sustentabilidade e cuidar do meio ambiente. “Temos que perguntar quais os serviços ambientais que prestamos e usufruímos e o que isto nos gratifica ou penaliza” – explica ele.


Para os que desejam trazer a sustentabilidade pra dentro de casa sem ter muitos gastos é só seguir o exemplo do ecologista. Gert usa a sustentabilidade em sua casa de forma criativa. Ele construiu uma unidade de coleta da água da chuva com materiais reciclados e mais baratos. Além disso, para proteger a casa do calor do verão, ele revestiu duas paredes de madeira com cercas vivas verdes.


Gert também dá exemplos de aliar a construção sustentável ao bom senso. Ou seja, não apenas com adaptações nas casas, mas com práticas sustentáveis do morador. Ele utiliza o lixo orgânico como adubo para as plantas; separa o lixo reciclável para doar à uma família que obtém seu sustento com isso e alimenta pássaros com restos de comida.


Para o arquiteto Mateus Szomorovszky, este bom senso é indispensável na sustentabilidade. Ele diz que não adianta, por exemplo, uma pessoa ter uma casa sustentável no interior, se ela é obrigada a usar o carro todos os dias para trabalhar na área urbana. Isso porque a sustentabilidade é tão ampla que vai além de uma casa ecologicamente correta.

As ecovilas

Praticar a sustentabilidade vivendo harmonicamente em grupo é a proposta das ecovilas. A idéia de criar comunidades desse tipo surgiu no começo da década de 1990, na Dinamarca. Hoje, quase 20 anos depois, esse conceito se expande pelo mundo todo.


Em Garuva, região norte de Santa Catarina, há uma pequena ecovila. A comunidade fica nos pés da montanha Monte Crista e tem 9 casas com 15 moradores. Fundada à cerca de 7 anos, ela ainda está “migrando do urbano para o alternativo”, diz uma das integrantes do projeto Tereza Geiser.


A Comunidade Monte Crista ainda usa energia elétrica, mas já está em processo de transição para a energia solar. Quanto a captação da água da chuva, nenhum projeto foi implantado ainda já que a água dos morros é abundante, mas a idéia está sendo discutida.


Contudo, há muitas práticas sustentáveis nas moradias. O esgoto é tratado através de um sistema de zona de raízes, que separa o sólido do líquido para não poluir. Os lixos de banheiros são empacotados em jornais com o objetivo de não usar sacolas plásticas. Há a utilização de lixo orgânico nas plantações e o lixo reciclável é também separado.

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